A MULHER E O MEIO AMBIENTE

Amig@s,

Por aqui vou tentar demonstrar uma linha de atuação muito tênue, porém eficaz, que é a importância da mulher no segmento ambiental. 
Culturalmente foi dada a mulher a condição de cuidadora do lar, somos nós que mantemos o equilíbrio e a harmonia familiar, o lar limpo e arejado, muitas de nós ainda contribuem no aumento da renda familiar, etc. Diante deste cenário, é natural para a mulher falar em ecologia ou meio ambiente, visto que estes temas tratam do zelo pela casa de todos nós, o Planeta Terra. Nossa participação nos debates sócio-ambientais tem aumentado significativamente, quase elegemos uma Presidente ambientalista e agora com a expectativa para RIO + 20, estamos marcando nosso território e reafirmando o nosso compromisso de zelar pelo nosso planeta.
Sendo assim, neste espaço, eu pretendo destacar artigos, reportagens e matérias que demonstrem a atuação feminina no seguimento ambiental.
Boa leitura a todos e a todas.

Márcia Marques




A MULHER E O MEIO AMBIENTE*



A cada dia que passa, a mulher vem se tornando a principal responsável pela família. A diversidade de suas tarefas faz com que ela desenvolva um conhecimento mais compreensivo e inclusivo sobre o seu meio ambiente. Esta sua habilidade torna-se um elemento cada vez mais importante para o manejo e recuperação do meio ambiente. 

A mulher vivencia mais fortemente a necessidade de definir sua cidadania, procurando o cenário propício para desenvolver sua individualidade. Ao mesmo tempo, luta para proteger aquilo que considera o núcleo fundamental de sua existência: o ar, a água e o solo, aos quais vincula sua vida, seu trabalho, seus sonhos. Essa responsabilidade, somada às dificuldades que afetam a todos, faz com que a mulher seja a primeira a protestar e a agir contra condições de agravamento da degradação ambiental.

Entretanto, não importando quanto seja inventiva e habilidosa, a mulher é, mais freqüentemente que o homem, privada das possibilidades de usar e administrar recursos naturais, frustrando sua capacidade de prover sua sobrevivência diária e neutralizando a contribuição que possa trazer ao manejo ambiental sustentável.

Por suas inumeráveis formas de participação e atividade dentro da sociedade, com forte influência nas decisões das políticas de desenvolvimento, quer direta ou indiretamente, a mulher não pode ficar à margem da causa ambiental. Ela está diretamente relacionada ao meio ambiente e consequentemente ao desenvolvimento sustentável, possuindo papel decisivo na realização das mudanças necessárias para reduzir ou eliminar padrões insustentáveis de consumo e produção, estimular o investimento em atividades produtivas ambientalmente saudáveis e induzir a um desenvolvimento industrial benévolo do ponto de vista ambiental e social, além de desenvolver a consciência dos consumidores e a participação ativa na preservação ambiental. As medidas estratégicas necessárias para uma nova ordem do meio ambiente exigem um método global, multidisciplinar e intersetorial. A participação e a liderança da mulher são fundamentais em todos os aspectos. As políticas de desenvolvimento sustentável que não contenham a participação do homem e da mulher, não conseguirão resultados a longo prazo. A participação mais efetiva da mulher na geração de conhecimentos e na educação ambiental, na adoção de decisões e na gestão em todos os níveis é fundamental. Enquanto a contribuição da mulher não receber reconhecimento e apoio, o desenvolvimento sustentável seguirá sendo um objetivo difícil de ser alcançado.

Felizmente, as experiências e contribuições da mulher a um meio ambiente ecologicamente racional devem ocupar um lugar prioritário no século XXI. De fato, nos últimos anos, vem ocorrendo uma intensa discussão sobre a relação da mulher com a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento de políticas. Essa discussão parte da preocupação de como a mulher está inserida no processo de desenvolvimento, seu papel e suas funções.

A mulher pode, em seu papel de mãe e educadora, fazer entender que somos parte da ecologia, que o ser humano é ecologia e que não temos o direito de usar o mundo como se fôssemos os únicos donos do planeta. Nós não somos donos de nada. Somos simplesmente uma espécie que vive nesse planeta, e essa espécie tem que viver harmoniosamente com outras espécies. Não podemos ser os predadores do planeta. Precisamos cuidar da terra como cuidamos de nossa casa e de nós mesmos: nossa natureza é a própria natureza.

Somos animais, humanos, do gênero feminino. Como animais, podemos sentir, pensar e nos comportar. Como seres humanos, podemos encontrar sentido nessas situações. Mas é como mulheres que podemos realmente cuidar.


*Texto de Eliana Rocha Furtado, engenheira, e, Laiena Ribeiro Teixeira Dib, bióloga, funcionárias da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte.
Texto publicado no Jornal Grito Mulher - edição nº 106/março de 2009 
FONTE: http://pastoraldamulherbh.blogspot.com.br/2009/03/mulher-e-o-meio-ambiente.html





Gênero e meio ambiente: 

a atualidade do ecofeminismo


A preocupação com o meio ambiente tem aumentado no decorrer dos anos. Já não é mais possível esconder a relação existente entre as catástrofes naturais e a destruição e poluição do meio ambiente. A crise ambiental está gerando problemas de caráter alarmante, os quais, além de comprometer a qualidade de vida, em muitos casos danificam o meio ambiente de forma irreversível, colocando em risco a vida do planeta para as gerações atuais e futuras.
Os problemas ambientais não devem ser entendidos isoladamente, visto que são sistêmicos, interligados e interdependentes. O capitalismo, centrado na exploração de recursos naturais e seres humanos tem contribuído decisivamente para o aprofundamento da destruição ambiental. Como já afirmava Engels: “não devemos vangloriar-nos demais com as vitórias humanas sobre a natureza, pois para cada uma destas vitórias, a natureza vinga-se às nossas custas” (ENGELS, 1972: 452).
No decorrer da história da humanidade, as mulheres têm desenvolvido uma relação diferenciada com a natureza em comparação aos homens. Neste texto, analisamos a pré-disposição das mulheres em proteger o meio ambiente e qual a relação existente entre a exploração e dominação da natureza e a dominação e subordinação das mulheres nas relações de gênero. Nesta análise, o movimento ecofeminista apresenta elementos importantes para a compreensão desta relação, contribuindo para a superação de visões simplificadoras acerca do tema.
1. A relação das mulheres com a natureza
Uma das primeiras representações divinas criadas pelos seres humanos foi a figura da “Deusa”, que representava a “mãe terra”. Conforme a mitologia grega, a Grande Mãe criou o universo sozinha, sendo Gaia a criadora primária, a “Mãe Terra”. Também as religiões pagãs antigas, como dos Vikings e Celtas, mantinham uma relação próxima com a natureza e cultuavam deusas, concedendo um destaque especial para as mulheres, pois estas tinham uma proximidade muito grande com a “Mãe Terra”, possuindo ambas o poder da fertilidade. Na mitologia celta, as mulheres eram invulneráveis, inteligentes, poderosas, guerreiras e líderes de nações. As mulheres também foram os primeiros seres humanos a descobrir os ciclos da natureza, pois era possível compará-los com o ciclo do próprio corpo. Com o cristianismo, a sociedade ocidental afastou-se destas origens pagãs de contato com a natureza e a mulher perdeu seu destaque, já que o Deus cultuado passou a ser masculino. A única figura feminina sagrada preservada foi a de Maria, mas não como uma divindade, e sim como uma intermediária de Deus, uma coadjuvante.
Diante da crise ambiental mundial e da consciência de que a Terra precisa ser preservada para garantir a sobrevivência das espécies, inclusive a humana, houve um despertar de valores ecológicos, ou seja, valores ligados à “Deusa” cultuada pelos povos pagãos, como o respeito a todas as formas de vida no planeta, a convivência na diversidade, etc.
2. O “cuidado” como tarefa feminina
A opressão e submissão das mulheres surgiram muito antes do capitalismo. Seu surgimento pode ser verificado historicamente desde que os povos deixaram de ser nômades e utilizaram a divisão social do trabalho como forma de organização. Assim, as mulheres permaneceram mais ligadas ao lar e aos filhos, enquanto os homens se ocupavam prioritariamente com as caçadas, por serem, na maioria das vezes, dotados de maior força física. Assim, as mulheres descobriram a agricultura e passaram a ter uma relação mais próxima com a natureza. Com a descoberta do papel masculino na reprodução, entretanto, era necessário saber quais os filhos que pertenciam a determinado homem para garantir a sucessão da herança. Inicia-se, desta forma, o controle sobre o corpo da mulher e o fato de mantê-la no âmbito do lar e cuidando da prole de um relacionamento monogâmico, facilitava tal intuito.
Através do desenvolvimento do capitalismo, as diferenças de gênero foram intensificadas. As mulheres foram, estrategicamente, encarregadas do trabalho doméstico, cuidando da casa, das crianças, dos velhos e doentes, além de “servirem” o marido, sendo caracterizadas como “rainhas do lar”. O trabalho doméstico foi considerado gratuito e denominado como trabalho não produtivo. Ao capitalismo a submissão social da mulher serviu inicialmente para diminuir os custos de reprodução do trabalho, uma vez que o salário do homem não precisava ser tão alto, pois ele não necessitava pagar pelos serviços domésticos (MIES, 1989: 47).
Simone de Beauvoir (BEAUVOIR, 1968) denuncia em seu livro O Segundo Sexo a exclusão das mulheres do espaço público em função da naturalização do papel feminino na reprodução. Desta forma, a mulher passa a ter uma vida cíclica, quase inconsciente, enquanto aos homens são reservados todos os benefícios da “civilização”[1]. Esta “naturalização” da tarefa feminina na reprodução e na vida doméstica, bem como a responsabilidade pela alimentação e saúde da família, acabou aproximando a mulher da natureza. Em muitas culturas as mulheres são as responsáveis pela manutenção da biodiversidade. Elas produzem, reproduzem, consomem e conservam a biodiversidade na agricultura (MIES/SHIVA, 1995: 234). Portanto, a tendência é que, para as mulheres, o equilíbrio do meio ambiente venha a se apresentar como um fator fundamental para a qualidade de vida da família, concebendo, assim, a natureza como fonte de vida que precisa ser preservada[2].  Enquanto isto, na visão capitalista patriarcal, a natureza não passa de um mero objeto de exploração, dominação e poder.
Os filósofos adeptos à ecologia profunda[3] afirmam que, se os homens estivessem mais próximos às tarefas domésticas e de reprodução, haveria um ganho na qualidade de vida e, conseqüentemente, na proteção ambiental, uma vez que eles teriam uma percepção real da unidade e interdependência dos seres humanos com o meio ambiente. As mulheres já fazem isto, porque a elas foi deixada a tarefa do cuidado e da manutenção da vida (CAPRA, 1996).
3. Ecofeminismo
O ecofeminismo originou-se de diversos movimentos sociais – de mulheres, pacifista e ambiental – no final da década de 1970, os quais, em princípio, atuaram unidos contra a construção de usinas nucleares. O movimento ecofeminista traz à tona a relação estreita existente entre a exploração e a submissão da natureza, das mulheres e dos povos estrangeiros pelo poder patriarcal (MIES/SHIVA, 1995: 23). Assim, a dominação das mulheres está baseada nos mesmos fundamentos e impulsos que levaram à exploração da natureza e de povos. Tanto o meio ambiente como as mulheres são vistos pelo capitalismo patriarcal como “coisa útil”, que devem ser submetidos às supostas necessidades humanas, seja como objeto de consumo, como meio de produção ou exploração. Além disso, o capitalismo patriarcal apresenta uma intolerância diante de outras espécies, seres humanos ou culturas que julga subalternas ao seu poder, buscando, assim, dominá-las. Neste contexto estão inseridos tanto o meio ambiente quanto as mulheres.
O ecofeminismo pode ser dividido em três tendências:
a)      Ecofeminismo clássico. Nesta tendência o feminismo denuncia a naturalização da mulher como um dos mecanismos de legitimação do patriarcado. Segundo o ecofeminismo clássico, a obsessão dos homens pelo poder tem levado o mundo a guerras suicidas, ao envenenamento e à destruição do planeta. Neste contexto, a ética feminina de proteção dos seres vivos se opõe à essência agressiva masculina, e é fundamentada através das características femininas igualitárias e por atitudes maternais que acabam pré-dispondo as mulheres ao pacifismo e à conservação da natureza, enquanto os homens seriam naturalmente predispostos à competição e à destruição;
b)      Ecofeminismo espiritualista do Terceiro Mundo. Teve origem nos países do sul, tendo a influência dos princípios religiosos de Ghandi, na Ásia, e da Teologia da Libertação, na América Latina. Esta tendência afirma que o desenvolvimento da sociedade gera um processo de violência contra a mulher e o meio ambiente, tendo suas raízes nas concepções patriarcais de dominação e centralização do poder. Caracteriza-se também pela postura crítica contra a dominação, pela luta antisexista, antiracista, antielitista e anti-antropocêntrica. Além disso, atribui ao princípio da cosmologia a tendência protetora das mulheres para com a natureza;
c)      Ecofeminismo construtivista. Esta tendência não se identifica nem com o essencialismo, nem com as fontes religiosas espirituais das correntes anteriores, embora compartilhe idéias como antiracismo, anti-antropocentrismo e anti-imperialismo. Ela defende que a relação profunda da maioria das mulheres com a natureza não está associada a características próprias do sexo feminino, mas é originária de suas responsabilidades de gênero na economia familiar, criadas através da divisão social do trabalho, da distribuição do poder e da propriedade. Para tanto, defendem que é necessário assumir novas práticas de relação de gênero e com a natureza.
PULEO alerta para a debilidade teórica existente nas duas primeiras tendências, como também para um possível risco de se afirmar a utilização de estereótipos femininos na sociedade. O ecofeminismo construtivista, por sua vez, desconsidera a importância da mística, o que acaba dificultando a mobilização das mulheres em torno do tema, elemento este que para o ecofeminismo espiritualista tem representado uma força prática efetivamente mobilizadora.
As mulheres pobres do Terceiro Mundo, que vivem em uma economia de subsistência, são as maiores vítimas da crise ambiental em seus países, pois são as primeiras a sentirem o reflexo da diminuição da qualidade de vida causadas pela poluição ou escassez dos recursos naturais, os quais são explorados indiscriminadamente para satisfazer as “necessidades” do Primeiro Mundo. A lógica do capitalismo tem se demonstrado incompatível com as exigências ecológicas para a sustentabilidade da vida no planeta. Portanto, ao contrário do que muitos ecologistas pensam, não é possível ecologizar o capitalismo, assim como também não é possível acabar com a dominação e exploração do gênero feminino sem superar as estruturas capitalistas patriarcais que a mantém. Deste modo, tanto a solução da crise ambiental quanto a da opressão das mulheres não devem ser tratados como problemas isolados. A salvação da vida no planeta, assim como a emancipação não só das mulheres como de todos os seres humanos, dependem de uma mudança estrutural e organizacional da sociedade. E para isto, é imprescindível a ação conjunta dos movimentos sociais contra seu opressor comum: o capitalismo patriarcal.

[1] Embora as mulheres tenham conquistado um certo nível de emancipação e ingressado no mundo do trabalho assalariado, elas continuam sendo exploradas e menosprezadas através de salários menores que os dos homens e tendo que assumir, na maioria das vezes, jornadas duplas de trabalho.
[2] Percebe-se, no decorrer da história, que as mulheres são mais fortemente comovidas por catástrofes naturais que os homens e, ao mesmo tempo, são as primeiras a protestar contra a destruição ambiental (MIES/SHIVA, 1995: 9).
[3] A ecologia profunda possui uma visão holística do mundo, concebendo-o como um todo e não como um conjunto de partes dissociadas, sendo os seres humanos considerados como parte integrante do meio ambiente. Esta concepção está baseada no questionamento profundo dos paradigmas existentes na sociedade, numa perspectiva ecológica (CAPRA, 1996)


Referências bibliográficas:
BEAUVOIR, Simone de. Das andere Geschlecht: Sitte und Sexus der Frau. Hamburg: Rowohlt, 1968.
CAPRA, Fritijof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996.
ENGELS, Friedrich. Dialetik der Natur. MEW 20. Berlin: Dietz Verlag, 1972.
MIES, Maria. Patriarchat und Kapital. Frauen in der internationalen Arbeitsteilung. Zürich: Rotpunktverlag, 1996.
MIES, Maria/SHIVA, Vandana. Ökofeminismus: Beiträge zur Praxis und Theorie. Zürich: Rotpunkt-Verlage, 1995.
PULEO, Alicia H. Feminismo y ecología. Disponível no site: http://www.nodo50.org/mujeresred/ecologia-a_puleo-feminismo_y_ecologia.html
PUSCH, Luise F. Feminismus – Inspektion der Herrenkultur. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1983.


A ecologia chegou à favela

Uma ativista paranaense mostra como os cuidados ambientais ajudam os moradores da Brasilândia, um dos bairros mais pobres de São Paulo


NOVOS RUMOS Monica em uma das hortas construídas num terreno baldio na Brasilândia. O local era usado como lixão e para desovar cadáveres (Foto: Rogério Cassimiro/Época) 


NOVOS RUMOS
Monica em uma das hortas construídas num terreno baldio na Brasilândia. O local era usado como lixão e para desovar cadáveres (Foto: Rogério Cassimiro/Época) 



Foi com o método pé na porta que a paranaense Monica Picavêa entrou pela primeira vez na Brasilândia, um bairro de 265 mil habitantes na Zona Norte de São Paulo. Numa manhã de abril de 2010, cerca de 30 mulheres se espalhavam pelo salão de uma igreja evangélica da comunidade, olhos e ouvidos atentos ao discurso de Monica: “Como podemos trabalhar para melhorar isto aqui? O que vocês mais amam fazer nesta vida?”, disse, numa sequência infindável de perguntas. Depois de várias tentativas para retirar uma manifestação dali, Monica recebeu um longo silêncio (interpretado mais como falta de interesse). Fechou o computador, colocou um cartão de visita sobre a mesa e, antes de virar as costas, disse: “Quando vocês descobrirem do que gostam, me procurem. Ninguém está aqui obrigado. Não quer ficar? É só sair”. Não por acaso, ela ganhou o apelido de Capitão Nascimento, o comandante linha-dura do filme Tropa de elite.
Quem não presenciou a cena dificilmente entenderia a alcunha. Monica, em seu estado natural, tem voz infantil, corpo franzino e traços de menina. Aos 37 anos, mais se parece com uma jovem estudante cheia de idealismos. Apesar da toada angelical, ela sabe bem como engrossar o tom quando necessário. Naquele dia, Monica tentava envolver uma pequena parte dos moradores da Brasilândia num programa inovador. Ao perceber que o respeito não viria pela fala afetuosa, partiu para um discurso mais duro. “Na mesma semana, eles me ligaram marcando outra reunião”, afirma.
Foi assim que Monica trouxe para um dos bairros mais pobres de São Paulo o movimento Transition Towns (ou Cidades em Transição), criado pelo inglês Rob Hopkins. Trata-se de uma iniciativa global para transformar os ambientes urbanos em cidades sustentáveis, sempre com a ajuda da criatividade local. A intenção é que esses centros caminhem rumo a uma economia com menos impactos ecológicos. Que dependam menos de produtos derivados do petróleo, como combustíveis e plásticos. E que sejam mais resistentes às grandes catástrofes, como enchentes. Tudo motivado pelas mudanças climáticas. 
O movimento tem cinco anos e está hoje em 34 países. Conta com 382 iniciativas espalhadas por cidades ao redor do mundo. Mas a primeira vez que essas ideias pousaram em um bairro pobre foi na Brasilândia, onde a prioridade é garantir o almoço do dia seguinte. Para aplicar o programa, Monica criou uma rede no bairro que conta hoje com mais de 500 moradores. Ela não participa de todas as iniciativas. Apenas facilita as reuniões, de modo que a própria comunidade tenha as ideias – e as execute.
As mudanças são notáveis. Parte dos terrenos baldios do bairro, antes usados como lixão e local para desovar cadáveres, abriga agora hortas comunitárias. O reflorestamento e os cuidados com as nascentes entraram no radar da população. As mulheres estão se organizando em cooperativas de costura e confeitaria, uma forma de gerar renda. Também passaram a frequentar aulas de reeducação alimentar, para usar melhor as verduras e os legumes. É o primeiro passo para que as crianças troquem o guaraná e o salgadinho por alimentos mais saudáveis. Nas unidades de saúde, os idosos têm aulas de lian gong (técnica chinesa para tratar dores), ioga e grupos de caminhada. Medidas importantes para reduzir o elevado número de mortes por infarto.
Mundialmente, o programa tem o mérito de direcionar as cidades para um crescimento sustentável. Na Zona Norte de São Paulo, é valioso também por levar uma discussão sofisticada (a do aquecimento do planeta, escassez da água e pressão por comida) a um público distante do assunto. Ao apresentar a Brasilândia ao Transition, Monica colocou no dia a dia da favela as transformações atuais do mundo. Pouco mais de um ano depois, o tema virou até rap. Os moradores enxergam claramente as mudanças. “Cresci aqui e esta é a primeira vez que vejo as coisas acontecer de verdade”, diz Thamires Ribeiro, agente ambiental do bairro.
Monica diz que quer expandir o projeto para outras favelas da cidade. Ela é do tipo mulher trator. Formada em jornalismo, já fez de tudo na vida. Começou a carreira no Programa do Ratinho. Fez mestrado em marketing nos Estados Unidos. Foi presidente da Fundação Alphaville, o braço socioambiental da incorporadora do mesmo nome. Hoje, tem uma empresa de consultoria em sustentabilidade. É mãe das gêmeas Laura e Luiza, de 2 anos, morenas de cachinhos. “Elas denunciam minha chapinha”, diz rindo, enquanto mostra a foto das filhas e seu cabelo artificialmente liso. Ainda encontra tempo, quase todo fim de semana, para plantar árvores ou limpar terrenos na Brasilândia. E sem ganhar um centavo. “Eu me recuso”, diz, balançando a cabeça de um lado para outro. “Me recuso a acreditar que a gente vai acabar num buraco.” Para Monica, conter uma possível catástrofe provocada pelo aquecimento global é só uma questão de mobilização. E, se precisar, de uma dose de Capitão Nascimento. 



Esta deputada federal é a coordenadora da inédita Frente Parlamentar de Agroecologia no Congresso Nacional

05/12/2012
luci-choinacki-blog
Se a cidade onde as pessoas nascem imprime nelas algum traço de personalidade específica, não foi o caso da deputada federal Luci Choinacki, do PT de Santa Catarina. Ela nasceu em Descanso, município do extremo-oeste catarinense. De família de agricultores, como acontece com praticamente 90% dos habitantes daquela região, descanso é palavra quase riscada do dicionário desta deputada federal já no seu quarto mandato.
De membro de várias comissões permanentes na Câmara dos Deputados, como as Comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; de Seguridade Social e Família; de Turismo e Desporto; de Reforma Política e de Igualdade de Direitos Trabalhistas, só para citar algumas, além de alguns livros publicados, e, é claro, da vida de uma parlamentar atuante (recebeu, por duas vezes, em seu Estado natal, o diploma “Melhor Desempenho Parlamentar”), a deputada Luci Choinacki resolveu recentemente se candidatar a nova e empolgante função – nota-se no brilho dos olhos, quando ela aborda o tema. Ela é a coordenadora da Frente Parlamentar pelo Desenvolvimento da Agroecologia e Produção Orgânica, lançada em agosto na Câmara dos Deputados, em Brasília, DF.
De uma agricultora que viveu, quando menina, a chegada do pacote tecnológico da Revolução Verde às lavouras do oeste catarinense e, ainda bem nova, recusava-se a aplicar veneno nas plantas para “defendê-las” das pragas – “Nunca apliquei nem uma gota de agrotóxico nas plantações, sempre me recusei”, conta, orgulhosa, demonstrando um feeling precoce de que boa coisa aquilo não era –, Luci Choinacki propõe-se agora a continuar o trabalho em prol de uma agricultura limpa em outro campo, o legislativo.
E orgulha-se de, no dia do lançamento da Frente de Agroecologia, 8 de agosto, em Brasília, o alto escalão do governo federal ter comparecido. “Estiveram presentes a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, além do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas”, destaca Luci, acrescentando que “não é de praxe ministros comparecerem ao lançamento de frentes parlamentares no Congresso”, diz a veterana deputada, que comunica que a frente tem o apoio também do ministro Gilberto Carvalho, titular da Secretaria-Geral da Presidência, e do Ministério da Saúde. “Sinal de que o governo federal está sensibilizado com a importância de mudarmos o perfil da nossa agricultura, em prol da saúde da população”, continua Luci.
A Frente de Agroecologia já tem a adesão, pelas contas da coordenadora-deputada, de mais de 200 parlamentares, de todos os partidos, incluindo também senadores. “A frente tem o propósito de ser um ponto de apoio para políticas públicas em favor de uma agricultura limpa”, explica ela, acrescentando que é necessário reverter este pensamento dominante, de que só o agronegócio empresarial, com a agricultura convencional e seu pacote transgênicos-agrotóxicos-adubos químicos, pode alimentar o planeta. “Vamos reunir pessoas, aglutinar ideias e principalmente experiências para mostrar que é viável a instituição da agroecologia como forma de produção”, esclarece. Para quem quiser colaborar, o e-mail da deputada édep.lucichoinacki@camara.leg.br.
“Outro dia conversava com um produtor rural e ele me resumiu a situação da seguinte maneira: ‘Ser agricultor convencional é fácil, porque você vai lá, compra praticamente uma receita de como produzir. Já vem tudo pronto no pacote. É só colocar em prática. Já com a agricultura orgânica, é mais difícil, porque o produtor é obrigado a pensar, a observar o solo, as plantas, o clima, tirar deduções a partir daí, experimentar mais, errar mais. É um processo de longo prazo. Por isso muitos desistem’”, conta a deputada. “Mas para a gente nada é impossível”, acredita ela, que comunica também que não pretende “bater de frente” com o agronegócio, que tem forte lobby no Congresso Nacional, por intermédio da Frente Parlamentar do Agronegócio, presidida pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Nossa política não é brigar com ninguém, e sim entrar com o argumento da saúde, que não há como não concordar. Todo mundo, seja ruralista ou ambientalista, quer mais saúde.”
Como medida prática para a frente recém-lançada, Luci Choinacki comunica que no fim de março deve ocorrer um grande seminário sobre agroecologia no Congresso Nacional, promovido pela frente. “É uma maneira de dar visibilidade ao assunto no Parlamento e já demarcar território”, esclarece. “Além disso, fazer a confirmação de que existe uma outra forma de produção, que cuida da saúde de quem planta e de quem consome”, diz. “Afinal, saúde não se compra na farmácia”, finaliza. Nem descanso.

fonte: http://organicosbrasil.wordpress.com/2012/12/05/esta-deputada-federal-e-a-coordenadora-da-inedita-frente-parlamentar-de-agroecologia-no-congresso-nacional/

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