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sexta-feira, 27 de abril de 2012
sábado, 14 de abril de 2012
Dilma, o mapa e a fantasia
por Renata Camargo* - 5 - abr - 2012 às 18:07
Primeiro vazamento de petróleo no Brasil, acidente com campo da Chevron na Bacia de Campos alerta sobre o risco do pré-sal, inclusive para as emissões brasileiras. Crédito: Rogério Santana / Divulgação / Governo do Rio
A presidenta Dilma recebeu ontem no Palácio do Planalto um mapa do Greenpeace com a radiografia das emissões de carbono da indústria do petróleo no Brasil. A publicação revela que por trás do "bilhete premiado" do petróleo, o pré-sal, há também uma bomba de carbono, que não pode ser ignorada nem considerada apenas uma "fantasia" de ambientalista.
Com o incremento da indústria do petróleo no país, estaremos também diante de uma curva ascendente de emissão de gases do efeito estufa. O estudo mostra que, impulsionado pelas reservas do pré-sal, em 2020, o Brasil produzirá 6,09 milhões de barris de petróleo por dia, o que representará 955,82 milhões de toneladas de CO² na conta de emissões mundiais - um crescimento de 197% comparado aos números atuais. Essas emissões podem consolidar o Brasil na incômoda posição de estar entre os três maiores emissores globais de gases do efeito estufa.
Às vésperas da Rio+20, a presidenta Dilma precisa decidir se o Brasil vai exercer o papel de liderança, como pretende, ou se vai manter o modelo de desenvolvimento do business as usual. Dilma tem agora em mãos um mapa da indústria petrolífera brasileira e suas emissões e pode utilizá-lo para repensar o peso do petróleo na nossa matriz de combustível e na matriz energética.
Se em seu discurso a presidenta reconhece a importância das questões climáticas e a necessidade de considerar o "clima" como um tema transversal a outros assuntos, então que seu governo ponha em prática políticas que estimulem de fato inovação tecnológica. O governo investe apenas 0,61% do PIB em inovação e a indústria - setor que afirmou ontem no Planalto que não será possível cumprir a meta de 5% de redução de emissões até 2020 - investe apenas 0,55%. Esses números estão muito aquém do desejável e do possível.
Impulsionar novas fontes renováveis de energia, garantir a qualidade da água, aumentar a proteção das florestas, investir em cidades sustentáveis e em tecnologias mais limpa e segura não é fantasia. Se o Brasil que propor na Rio+20 um novo paradigma de crescimento que não pareça etéreo e fantasioso, isso só será possível se a utopia da sustentabilidade for ouvida. Crescer, incluir, proteger e conservar é um mantra possível se os pilares da proteção e conservação forem de fato respeitados.
*Renata de Camargo é coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace
fonte: http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog/dilma-o-mapa-e-a-fantasia/blog/39884/#.T34mt9-g3cQ.facebook
fonte: http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog/dilma-o-mapa-e-a-fantasia/blog/39884/#.T34mt9-g3cQ.facebook
E O VENTO LEVOU - POR MÍRIAM LEITÃO
COLUNA NO GLOBO
E o vento levou
A presidente Dilma Rousseff falou de improviso na reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas sobre a Rio+20. Não acertou o tom. Quem a ouviu falando em Copenhague, na COP-15, notou que ela avançou no entendimento da questão ambiental e climática. Mas ainda tropeça. Foi derrubada pelos ventos, pelas florestas, pelos atos do seu governo, pelas análises datadas que ainda não abandonou.
Segundo a presidente, não há espaço para fantasia. Certo. Melhor ficar nos fatos. “Eu não posso falar: olha é possível só com eólica iluminar o planeta. Não é. Só com solar, de maneira alguma. Por isso que tem que ter base científica a nossa discussão”, disse a presidente.
Os fatos: nunca alguém defendeu iluminar o planeta apenas com vento e sol, mas sim aumentar a presença de fontes renováveis não convencionais, como essas duas. Cientificamente falando, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) fez um levantamento do potencial eólico e chegou a números que até parecem fantasia de tão bons. O potencial de energia dos ventos seria, segundo a EPE, de 143 gigawatts, ou seja, dez usinas da dimensão de Itaipu. E não tem feito medição offshore.
O vento é melhor, mais constante e necessário no Nordeste, exatamente a região que já não tem potencial hidrelétrico remanescente. Sol também não falta na região, mas ele tem sido tratado com ainda mais desprezo nas políticas públicas da área de energia. Esse descuido com os não convencionais está fazendo com que o Brasil perca a corrida pela ponta do processo.
Segundo a Clean Edge, uma consultoria internacional especializada em tecnologias limpas, a receita global de fotovoltaica (solar), eólica e biocombustível subiu 31% de 2010 para 2011, de US$ 188 bilhões para US$ 250 bilhões. Isso foi puxado pelo crescimento de dois dígitos da energia proveniente do vento e do sol. No biocombustível o que subiu foi o preço. A China foi, em 2011, líder global em novas instalações de usinas de energia eólica pelo quarto ano consecutivo: 40% de todas as novas instalações no mundo. A União Europeia está em segundo, depois, Estados Unidos, Índia e Canadá. As novas instalações de fotovoltaica aumentaram 69% de 2010 para 2011. E, por isso mesmo, os preços dessas energias não convencionais, que sempre foram argumento no Brasil para o não investimento, estão despencando. Caíram mais de 40% entre 2010 e 2011. A previsão é que até 2021 vai declinar a um terço do nível atual. O preço global de fotovoltaica era, em 2007, US$ 7,20 por watt. Em 2012, foi a US$ 2,69.
No Brasil também tem vento a favor. O governo adiou o que pôde, mas os fatos se impõem. A capacidade instalada saiu de 22 MW em 2003 para 1.471 em 2011. Com os projetos já contratados a previsão é que chega a 8.088 MW em 2016. O preço médio caiu a um terço desde 2005. Ainda é 1,6% apenas da matriz. A Abeólica acha que chegará a 5,4% em 2014.
Dilma fez críticas ao carvão. Está correta. Mas este ano três termelétricas serão inauguradas para queimar carvão importado da Colômbia. E há outros projetos de térmicas a carvão.
A presidente disse que na questão da água fica difícil para a população entender o problema porque nós temos “água excedente”. Ressalvou apenas os períodos de seca do Nordeste. A seca do Nordeste este ano está feroz, mas o Sul teve recentemente um cenário nordestino e a Amazônia tem tido períodos de estiagem que esvaziam até o caudaloso Rio Negro.
Dilma revisitou a tese de que o Brasil está na frente dos outros países na sustentabilidade. Fantasia. O país está aprovando uma mudança no Código Florestal para reduzir as exigências de preservação. Há duas versões: a da Câmara e a do Senado. Uma é melhor que a outra, mas ambas são piores que o Código atual.
Segundo a presidente, “nós temos a sorte de ter a Amazônia conosco, com a consciência e a nossa capacidade de lutar para preservá-la”. É uma sorte mesmo ter a Amazônia. Mas a temos perdido um pouco a cada ano. O que o governo apresenta como avanço de preservação é apenas queda do ritmo de destruição.
A presidente também elogiou o Brasil pelo etanol, mas seu governo tem mantido a política que desequilibra a relação gasolina-etanol e põe em risco a indústria do álcool, pela qual o Brasil já pagou tão caro.
O país tem a grande vantagem da matriz energética, que mesmo com os combustíveis dá em torno de 50% de energia limpa. O grande problema é a aposta tão forte em megausinas hidrelétricas no meio da Amazônia, cujas construções provocam desmatamento. E mais: os conflitos trabalhistas nos canteiros são um problema das empresas privadas e seus empregados, mas são tratados como questão de segurança nacional. Mandam-se tropas federais.
A presidente, apesar de todos esses pressupostos, afirmou: “Eu não acredito que nós possamos construir um novo modelo de desenvolvimento sustentável para o mundo sem lidar com os impasses em relação ao clima.” Boa frase. Pena que, na prática, o Brasil tem trabalhado nas reuniões preparatórias da Rio+20 para que a questão climática não entre na agenda. Se for assim, o debate do Rio periga virar uma fantasia.
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