segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

'BRASIL NÃO É BANGLADESH. NÃO TEM DESCULPA', DIZ CONSULTORA DA ONU

Por Jamil Chade, estadao.com.br, Atualizado: 14/1/2011 0:54



Desastres naturais de proporções assustadoras, como os que ocorreram na região serrana do Rio de Janeiro, geralmente são causados por uma rara combinação de fatores, como uma chuva de intensidade anormal, a existência de solo encharcado e instável em decorrência de chuvas anteriores, declives acentuados, falta de vegetação adequada, entre outros. Mas desastres como esses só se transformam em tragédias humanas porque, com a tolerância e até o estímulo irresponsável do poder público, áreas sob risco permanente de deslizamentos são ocupadas desordenadamente. Na região serrana fluminense, nas encostas e nas áreas devastadas pela avalanche de lama e pedras encontram-se desde favelas até residências de padrão elevado, sítios de lazer e hotéis de luxo.


A ocorrência, há décadas, de tragédias semelhantes à registrada agora em Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis e Sumidouro - os municípios mais afetados pelos deslizamentos que, além das centenas de mortes, provocaram o caos, com a interrupção dos serviços urbanos essenciais, o que dificultou ainda mais o socorro às vítimas - deveria ter servido de alerta às autoridades no sentido de adotar medidas preventivas para, pelo menos, reduzir os efeitos das tempestades de verão.

Em 1967, a região de Petrópolis foi duramente castigada por um temporal que provocou a morte de 300 pessoas. No ano passado, deslizamento em Angra dos Reis matou 53 pessoas e desalojou outras 3.500. Em todo o Estado do Rio, desastres naturais decorrentes das chuvas provocaram a morte de 74 pessoas em 2010.

Foi graças à imprevidência das autoridades - para não dizer descaso - que se repete em 2011 a tragédia de 1967. Além de afetar dolorosamente a vida das famílias, a falta de projetos e ações destinadas a evitar a ocorrência de desastres naturais em áreas ocupadas por residências tem um forte impacto financeiro. Por não aplicar o que pode em prevenção, o governo acaba tendo de gastar muito mais em obras de recuperação. Que a presidente Dilma aproveite este primeiro desafio a que é submetida para demonstrar que não veio apenas para continuar o que Lula fez. Está dado o recado!

“BRASIL NÃO É BANGLADESH. NÃO TEM DESCULPA”

Nesta sexta-feira (14), a consultora da ONU e diretora do Centro para a Pesquisa da Epidemiologia de Desastres, Debarati Guha-Sapir, considerada uma das maiores especialistas no mundo em desastres naturais e estratégias para dar respostas a crises, falou ao Estado (www.estadao.com.br) e lançou duras críticas ao Brasil. Para ela, só um fator mata depois da chuva: 'descaso político.' Aproveitou e fez um alerta: 'O Brasil não é Bangladesh e não tem nenhuma desculpa para permitir, no século 21, que pessoas morram em deslizamentos de terras causados por chuva.'

Vamos às declarações de Dabarati.

- Como a senhora avalia o drama vivido no Brasil?

- Não sei se os brasileiros já fizeram a conta, mas o País já viveu 37 enchentes, em apenas dez anos. É um número enorme e mostra que os problemas das chuvas estão se tornando cada vez mais frequentes no País.

- O que vemos com o alto número de mortos é um resultado direto de fenômenos naturais?

- Não, de forma alguma. As chuvas são fenômenos naturais. Mas essas pessoas morreram, porque não têm peso político algum e não há vontade política para resolver seus dramas, que se repetem ano após ano.

- Custa caro se preparar?

- Não. O Brasil é um país que já sabe que tem esse problema de forma recorrente. Portanto, não há desculpa para não se preparar ou se dizer surpreendido pela chuva. Além disso, o Brasil é um país que tem dinheiro, pelo menos para o que quer.



- E como se preparar então?

- Enchentes ocorrem quase sempre nos mesmos lugares, portanto, não são surpresas. O problema é que, se nada é feito, elas aparentemente só ficam mais violentas. A segunda grande vantagem de um país que apenas enfrenta enchentes é que a tecnologia para lidar com isso e para preparar áreas é barata e está disponível. O Brasil praticamente só tem um problema natural e não consegue lidar com ele. Imagine se tivesse terremoto, vulcão, furacões...

Aprendam esta lição senhores governantes brasileiros, e tomem vergonha na cara para fazer o que tem que ser feito, com urgência urgentíssima, que é a política de prevenção e não apenas a de recuperação e ajudas paliativas às vítimas dessas catástrofes que podem muito bem ser evitadas. Tome-se como exemplo o que vem sendo feito na Austrália onde cidades importantes estão submersas; populações foram alertadas com dias de antecedências; regiões inteiras foram evacuadas. O número de vítimas naquele país é residual. E aqui? Aqui, bastou uma tromba d’agua (imprevisível?) para matar perto de 500 pessoas na região serrana do Rio em praticamente 24 horas.

Parafraseando o apresentador jornalístico Boris Casoy, “isto é uma vergonha!”

Benito- Com informações do estadão - www.estadao.com.br

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